Eu sei que estou quase a ser mãe e que a minha visão das coisas pode vir a mudar, mas mesmo assim há coisas que neste momento não consigo perceber.
Não consigo perceber como é que há filhos com mais de 30 anos que continuam a depender dos pais... e não só economicamente.
Eles têm uma ambição desmedida, que vai para além das suas possibilidades... mas querem... e ponto final. Por isso tratem os paizinhos de fornecerem o que for necessário para não os fazerem infelizes.
Dizem-se super autónomos mas...
- É a mamã que vai lá a casa fazer as limpezas, passar a roupa, encher o frigorífico e deixar já algumas refeições preparadas, que é para o filho quando sair do seu part-time
(sim que full-time ocupa muito tempo) não se cansar.
- Quase todos os fim-de-semana ficam com os netos para o casal ter alguma privacidade.
- Ajudam na prestação da casa e na comida, porque o filho têm que ir todos os anos de férias às Caraíbas, a prestação do Audi é muito alta, e a roupa têm que ser da Sacoor.
- Vão buscar todos os dias os netos ao colégio porque a filha decidiu tirar agora a licenciatura e não têm tempo para os filhos que decidiu sozinha que queria ter.
And so on...
É verdade, sou uma BESTA e não compreendo estes comportamentos... tanto de pais como de filhos.
O comportamento dos pais que continuam a achar que é sua obrigação e matam-se a trabalhar para dar aos filhos aquilo que nunca tiveram.
Eu sei que todos os pais querem o melhor para os filhos, mas uma coisa é ajudar... outra é serem explorados.
O comportamento dos filhos, que não passam de sangue-sugas, de seres humanos egoístas com prioridades trocadas. Que querem mostrar à sociedade um nível de vida que não depende só do seu suor. E o mais grave de tudo, são muitas vezes mal agradecidos, achando que os pais não fazem mais que a sua obrigação e que estão neste mundo para serem seus servos. E são muitas vezes esses filhos que, no dia em que os pais deixam de ter algo para lhes oferecer mas necessitam de algum auxilio, são os primeiros a bater com a porta.
Tenho uns pais bestiais que não me ajudam em nada. E mesmo assim são bestiais :)
E sabem porquê? Porque até à data em que eu decidi sair de casa nunca me faltaram com nada e sempre me apoiaram e ajudaram naquilo que precisei... mas, a partir do momento que eu decidi ser autónoma e tomar as rédeas da minha vida, eles deixaram de assumir responsabilidades sobre as minhas decisões.
- Se eu decidi comprar casa e carro, tenho que ter consciência se posso pagar a prestação, o seguro, o combustível, a revisão, condomínio...
- Se eu decidi viver sozinha, tenho que ter consciência que uma casa precisa de limpeza e manutenção e que terei de ser eu a ter tempo para o fazer, ou então, ter dinheiro para pagar a alguém que o faça por mim.
- Se eu decidi ter filhos, sei que tenho que abdicar de certas coisas e ter recursos financeiros para pagar o colégio e as fraldas e provavelmente o mestrado vai ter de ficar por fazer por mais uns tempos.
- Não há dinheiro para ir à Rep. Dominicana? Paciência! Vai-se para Carcavelos, porque o sol é igual em todo o mundo!
Os meus pais têm possibilidades? Agora têm... mas viveram algumas privações para me criar, e agora que têm algumas possibilidades é altura de gozarem um pouco a vida e de fazerem coisas que até agora nunca fizeram. E se eu lhes tira-se essa possibilidade agora, que pode ser a última oportunidade que eles terão para aproveitarem o que esta vida tem de bom, para eu gozar de todos os luxos que eles nunca tiveram, não acham que seria o bicho mais egoísta ao cimo da terra?
Sei que no dia que eu precisar verdadeiramente, eles estarão sempre disponíveis para me ajudar... e serão os primeiros a quem recorrerei... mas terá de ser mesmo uma grande necessidade... e nesse dia já não terei Internet nem TV cabo, nem dinheiro para o ginásio, unhas de gel, cabeleireiro, cinema e restaurantes. Se é que me entendem...
Claro que há dias em que vou jantar a casa dos meus pais e que até trago 3 tupperwer's para casa...
Claro que existirão dias que eles ficaram com o neto para eu poder ir ao cinema...
Claro que sim, mas tudo com muita moderação e tendo sempre em mente que eles têm vida própria... e que isso é um favor que me fazem... nunca uma obrigação.
Mas começa a tornar-se difícil arranjar pessoas da minha idade com o mesmo pensar que eu...
Ou então concordam com o meu ponto de vista mas, sabemos que na prática não é isso que praticam.
Por isso pergunto-me: "Este mundo anda perdido, ou sou eu que sou mesmo uma BESTA?"