segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Sem título/Sem filtro /Sem nexo

Estou há 36 horas a viver um pesadelo... que eu pensava que estava chegar ao fim... mas que sinto agora, que está só a começar!

Depois de um dia, uma noite, uma madrugada inteira de velório, a missa e o funeral, chego à 1ª conclusão: quem inventou estes rituais só poderia ser muito masoquista.
Mas aguentei este penoso e desgastante processo... ela merecia... eles merecem!

Achei que agora conseguiria deitar a cabeça na almofada e desligar o cérebro... mas não...
Continuo a pensar neles... como será que estarão os dois na casa que antes era dos três?
Como se sobrevive a um desgosto deste?
A ver repetidas vezes as mesmas imagens em slow motion.

Sempre ouvi dizer que o mal é de quem parte... não sei se concordo.
Se quem parte se livra da dor e do sofrimento que a existência lhe trazia e que dificilmente se conseguiria libertar. Quero acreditar que foi o melhor, que está bem melhor e a dar um olho por nós como se um anjo da guarda se tratasse.

Agora como se vive com a perda de um filho, muito desejado, muito amado? Isto é contra natura!
Como se ajuda uns pais nesta situação?
A minha missão é descobrir e fazer o melhor que posso e que sei.

Outra missão é perceber a mensagem que a curta vida deste ser nos deixou, sim... pois sei que não foi em vão a sua passagem.
Começo a perceber que há coisas que não merecem o valor que lhes damos. Andamos sempre a queixar-nos de tanta coisas sem importância.
Foi preciso esta prova para ver que independentemente das nossas diferentes maneiras de ser, pensar e agir... eles são sem dúvida membros de uma família que eu escolhi e que faria tudo para não os ver destroçados desta maneira. Que por vezes andamos tão cegos com mesquinhices que nem percebemos o quanto gostamos das pessoas que nos rodeiam.

Estou aliviada por a ter conseguido visitado duas vezes nestas últimas duas semanas. Não me teria perdoado se isso não acontecesse.
É mais outra aprendizagem... andamos sempre tão atarefados com a rotina diária das nossas vidas que achamos que é impossível acrescentar algo mais. É possível e chama-se gestão de prioridades... muitas vezes temos estas prioridades tão trocadas, inconscientemente.
Fiquei feliz de as condições terem permitido levar a minha Bárbara, foi bom te-las visto interagido uma com a outra mesmo com um vidro pelo meio.
Dizem que os bebés tem uma forma própria de se comunicarem entre eles. Percebi a maneira sóbria e adulta (que ela já tinha com aquela tenra idade) como ela observou a Bárbara todo o tempo da nossa primeira visita. Ela  teria muito para lhe dizer, mas a imaturidade e inconsciência da Bárbara não lhe permitiram captar a mensagem por completo. E note-se que tem só 6 meses de diferença... mas nas vivências estavam a anos luz. Mas espero que algo, por muito pouco que seja tenha passado e permaneça na (in)consciência da Bárbara.
Na segunda visita, percebo agora, que ela já estava a perder as forças, foi o nosso adeus!

Outra coisa que me agonia é as tais melhoras da morte... aquela coisa que nos enche de esperança nos  últimos dias/horas... para depois nos apunhalar pelas costas!

Outra coisa que me incomoda é este sentimento estúpido de me sentir uma egoísta/sortuda/sei lá o quê, por ter a minha filha viva e com saúde aqui ao pé de mim.

Algo curioso é como os nossos sentimentos fazem mudar os nossos actos e pensamentos do dia para a noite. Nunca gostei de ver mortos, muito menos tocar ou beijar. Mas com ela foi diferente. Beijei-a e fiz.lhe as festas que um rigoroso isolamento médico não me permitiam à muito.

Nunca fui visitar campas ao cemitério, acho outro ritual desnecessário... mas sinto que com ela vai ser diferente! Acho que vou-me sentir bem no 121. Apesar de saber que lá estou somente a sua morada  física. A espiritual está connosco e nos nossos corações diariamente.

Tenho pena que não tenha tido tempo suficiente para ser a Madrinha fixe que idealizei ser para ela.
Mas sei que a amo e amarei para o resto dos meus dias.
Quero agora ter força e sapiência para ajudar os meus amigos a ultrapassar esta dura prova de fogo.
Quero agora e sempre lembrar as coisas que este anjinho me ensinou, tão essenciais mas por vezes tão esquecidas.

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